Agindo no concreto, no dia-a-dia, nas empresas e nas ruas – <b>porque a luta continua</b>

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política)

A cada se­mana que passa cresce o iso­la­mento po­lí­tico e so­cial deste Go­verno e da sua po­lí­tica e, con­se­quen­te­mente, o re­púdio pelo pacto de agressão.

O Par­tido tem es­tado onde tem de estar

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A te­oria da ine­vi­ta­bi­li­dade, dos bons alunos que têm de cum­prir bem cum­pri­dinho as po­lí­ticas que des­troem di­reitos la­bo­rais, o acesso à saúde e ao en­sino; a po­lí­tica que lança mi­lhares na opor­tu­ni­dade do de­sem­prego e mi­séria, es­tran­gula até mais não o co­mércio e a res­tau­ração, e a ge­ne­ra­li­dade dos micro e pe­quenos em­pre­sá­rios, agride os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, ataca o poder local de­mo­crá­tico, mal­trata os mi­li­tares e as forças e ser­viços de se­gu­rança, vai dando lugar à cres­cente cons­ci­ência de que este é o ca­minho do de­sastre para a imensa mai­oria dos tra­ba­lha­dores e do povo e o ca­minho do pros­se­gui­mento do fa­vo­re­ci­mento para os do cos­tume, o ca­pital fi­nan­ceiro, os grupos mo­no­po­listas.

Este cres­cente iso­la­mento po­lí­tico e so­cial faz crescer também a ar­ro­gância de um poder po­lí­tico que olha para os de­sem­pre­gados como pre­gui­çosos, mo­len­gões sem ini­ci­a­tiva e es­per­teza em­pre­en­de­dora e, na sua versão cristã, em forma de apelo para que não exista o medo «de sujar as mãos, aju­dando os mi­se­rá­veis da terra»1 en­cai­xando nesta con­cepção o pro­to­colo de co­o­pe­ração as­si­nado entre o Go­verno e o cha­mado sector so­li­dário.

A pre­o­cu­pação so­cial de Passos e Portas é a versão A da pro­posta de anexo ao tra­tado or­ça­mental de Se­guro, porque a re­a­li­dade é que, mais uma vez, ambos con­ver­giram na vo­tação ao re­fe­rido tra­tado, mesmo sem o anexo sem nexo do PS, bem como nas vi­o­lentas al­te­ra­ções ao Có­digo de Tra­balho. E não são os usuais ma­la­ba­rismos do PS que apagam esta evi­dência, como bem de­mons­tram as de­cla­ra­ções de Se­guro à saída de mais um en­contro com Passos ou a co­missão de «sá­bios» do cen­trão para a ela­bo­ração do novo Con­ceito Es­tra­té­gico de De­fesa Na­ci­onal. Aliás, a per­gunta que se impõe é: contra o quê votou o PS desde que o PSD e o CDS-PP estão no Go­verno? Aonde en­caixa a re­tó­rica de Se­guro na prá­tica do PS? Só mesmo quando diz que o PS res­peita o acordo as­si­nado com a troika.

Tudo isto tem lugar ao mesmo tempo que os dados vindos a pú­blico dão conta de que as ad­mi­nis­tra­ções das em­presas co­tadas no PSI 20 viram, em média, os seus ven­ci­mentos au­men­tados em 5,3%, o PIB di­mi­nuiu 2,2% no 1.º tri­mestre e o an­tigo pre­si­dente do BCE Jean-Claude Tri­chet su­gere que go­vernos su­pra­na­ci­o­nais go­vernem os países in­cum­pri­dores. A na­tu­reza de classe desta po­lí­tica é ina­pa­gável, assim como a con­cepção co­lo­nial das po­tên­cias do­mi­nantes da UE.

 

A luta in­ten­si­fica-se

 

Ao con­trário da­quilo que o PSD e o CDS-PP pen­savam, a luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções de­sen­volve-se e alarga-se. De­sen­volve-se em de­fesa dos ser­viços pú­blicos e contra o seu en­cer­ra­mento; contra as por­ta­gens; contra a ex­tinção de fre­gue­sias e contra uma aber­rante Lei dos Com­pro­missos que atenta contra a pos­si­bi­li­dade de res­posta, por parte do Poder Local, a ne­ces­si­dades bá­sicas das po­pu­la­ções.

De­sen­volve-se contra as me­didas em curso para a edu­cação e o en­sino e a cres­cente ex­clusão que geram, bem como contra o vasto con­junto de me­didas em de­sen­vol­vi­mento contra os tra­ba­lha­dores da Função Pú­blica, desde logo as que vão atirar para o de­sem­prego mi­lhares de tra­ba­lha­dores, por muito que o Go­verno mas­care as con­sequên­cias reais da­quilo que pre­tende.

De­sen­volve-se com a exi­gência por parte dos mi­li­tares e das forças e ser­viços de se­gu­rança ao res­peito por prin­cí­pios ba­si­lares das res­pec­tivas ins­ti­tui­ções, como seja o das pro­mo­ções e os di­reitos con­sa­grados nos res­pec­tivos es­ta­tutos, mas também contra as ope­ra­ções de pro­pa­ganda en­ga­nosa junto da opi­nião pú­blica.

De­sen­volve-se com as jor­nadas de luta con­vo­cadas pela CGTP-IN para os pró­ximos dias 9 e 16 de Junho no Porto e em Lisboa, res­pec­ti­va­mente.

De­sen­volve-se também com as múl­ti­plas ac­ções das or­ga­ni­za­ções do Par­tido, das quais se des­taca o com­ba­tivo des­file re­a­li­zado no Porto no pas­sado dia 12 de Maio e o que terá lugar em Lisboa no pró­ximo sá­bado, 26, contra o pacto de agressão, por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, contra o rumo de afun­da­mento na­ci­onal.

Se a vida con­firma o de­sastre a que está a con­duzir esta po­lí­tica, também con­firma o acerto da pro­posta do Par­tido de re­ne­go­ci­ação da dí­vida pú­blica e de uma po­lí­tica as­sente na di­na­mi­zação da pro­dução na­ci­onal, va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores, do con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos.

O Par­tido tem es­tado onde tem de estar e com quem tem de estar, hon­rando a sua na­tu­reza de classe, ide­o­logia e prin­cí­pios e, de forma as­su­mi­da­mente livre, tem tra­vado a ba­talha da luta contra esta po­lí­tica. Re­sis­tindo e lu­tando. Re­sis­tindo e pro­pondo. Sem mo­leza agindo contra esta po­lí­tica e o pacto de agressão. Agindo no con­creto, no dia-a-dia, nas em­presas e nas ruas, porque a luta con­tinua!

_____________

1 Car­deal D. Gi­an­franco Ra­vasi, pre­si­dente das co­mis­sões pon­ti­fí­cias dos Bens Cul­tu­rais da Igreja e da Ar­que­o­logia Sacra, ho­milia de 13 de Maio em Fá­tima.



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